Uma organização não-governamental angolana criticou esta Segunda-feira a reduzida quota orçamental alocada ao sector ambiental no país, “muito abaixo dos padrões universais”, e defendeu que Angola deve centrar as suas acções de mitigação às alterações climáticas no homem.
Para Carlos Cambuta, director geral da Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), é positivo o facto de o Governo ter políticas públicas de mitigação dos efeitos das alterações climáticas, embora essas tenham maior enfoque na região sul do país.
Cuando-Cubango, Cunene e Huíla são as províncias do sul do país, recordou, com mais acções de mitigação das alterações climáticas, pelo facto de a região ser a mais afectada pela seca.
"Mas há necessidade de repensarmos as acções de mitigação das alterações climáticas que não passam apenas pela construção de barragens ou recuperação de valas de irrigação, mas é preciso que o conceito vá mais além", disse esta Segunda-feira Carlos Cambuta, em declarações à Lusa.
"Ir além significa colocar o homem no centro de toda a atenção, porque o homem é que tem sido, por um lado, a pessoa afectada, mas, por outro lado, o causador das consequências das alterações climáticas", notou.
O responsável insistiu na necessidade de concepção de políticas voltadas para as pessoas "para que todos os cidadãos participem no processo de formulação e implementação das políticas de convivência com os efeitos das alterações climáticas".
Em declarações no âmbito da 27.ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP27), que decorre no Egipto, o líder da ADRA criticou também a reduzida dotação orçamental cabimentada ao sector do ambiente em Angola.
Carlos Cambuta defende maior prioridade de financiamento público ao sector ambiental, considerando que a dotação para este sector a nível do OGE (Orçamento Geral do Estado) está "muito abaixo dos padrões universais".
"Isso pode não contribuir para que as acções que estão planificadas possam ser efectivamente implementadas", frisou.
O responsável da organização não-governamental defendeu ainda a necessidade de o país conter a pobreza através do fortalecimento das associações e cooperativas agrícolas para que as famílias, sobretudo em situação de vulnerabilidade, não devastem as árvores.
Porquanto "têm sido as famílias em situação de pobreza e de vulnerabilidade que, não encontrando meios de sustento, recorrem à prática de derrube de árvores, o que acaba por prejudicar o meio ambiente", salientou.
"Uma forma para ultrapassar isso é ter-se programas sustentáveis de apoio a estas pessoas em situação de pobreza e vulnerabilidade", assinalou.
A ministra do Ambiente, Ana Paula de Carvalho, que faz parte da delegação angolana chefiada pela vice-Presidente, Esperança da Costa, que participa da COP27, afirmou que Angola tem uma agenda que visa a mobilização de financiamento para projectos ambientais.
A governante, citada pela rádio pública angolana, referiu que a delegação vai apresentar neste encontro mundial a estratégia do país sobre as alterações climáticas, alinhada aos padrões internacionais.
Limitar o aquecimento global e reduzir a utilização de combustíveis fósseis é um dos principais objectivos da conferência que decorre até ao dia 18 deste mês na cidade egípcia de Sharm El-Sheik.
"Globalmente esperamos que mais do que fazer recomendações é haver um compromisso por parte dos Estados para que haja de facto acções que concorram para que este fenómeno não possa afectar as pessoas", sublinhou Carlos Cambuta.
A questão do compromisso, "nomeadamente na gestão dos recursos naturais, é fundamental, e igualmente haver o compromisso no sentido de se fomentar parcerias não apenas entre os Estados, mas também a nível das organizações da sociedade civil", rematou o director-geral da ADRA.
Fonte: VerAngola